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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

LUIS MARTINS JÚNIOR
(BRASIL – SÃO PAULO)


Paulista de Campinas (SP), onde trabalha no CESEC.
Cursando (em 1984) o 4º. ano de Direito na Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Publica trabalhos nos jornais da cidade, sem coluna aberta.
É a primeira participação em concurso literário.

 

 

AS MELHORES POESIAS DO 1º. CONCURSO ONESTALDO PENNAFORT.  Prefácio de Eliezer Bezerra. Brasília, DF:  FEBAB, 1984.  89 p,  15 x 21 cm. 
No. 10 189
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda, doação do amigo (livreiro) Brito, em outubro de 2024.


CIRANDAS DA MINHA INFÂNCIA

Atirei o pau no gato...
E fiz muitas travessuras
Nas ruas, quintais, nos matos.
Dona Chica admirou-se,
Pois a roda agigantou-se,
Em ciranda de aventuras.

Ciranda, cirandinha...
Era um mundo de luz e cor.
A mão na mão da amiguinha
Apertava a alegria,
Que em suas faces se entrevia
Na pureza do rubor.

Terezinha de Jesus ...
No corre-corre fui ao chão
E o pranto nos olhos reluz;
Mas brincaria o ano inteiro
Para ser seu cavaleiro,
P´ra você me dar a mão.

Roda, roda, roda... Pé, pé, pé ...
Roda o meu pensamento,
Me envolve de amor e de fé,
Me faz confiar no futuro,
Que eu nada faça de obscuro,
Que seja azul meu firmamento.

Batatinha quando nasce ...
Esparrama a esperança
De criar um forte enlace,
Entre o mundo da ilusão
E o da realidade, seu irmão,
No pensamento da criança.

Alecrim, alecrim dourado ...
Doura meus sonhos, minha vida.
Traze teu encanto perfumado.
Minha tristeza incomoda,
Tira-a da grande roda
De minha infância querida.

Passa, passa cavaleiro ...
Pela porta azul do céu.
Leva o meu mundo inteiro
A paz de que ele tanto precisa,
A humanidade suaviza,
Para não virar babel.

Eu sou pobre, pobre, pobre ...
Mas a vida é um riqueza
E vivê-la é muito nobre.
A defesa dos direitos
E o combate aos defeitos,
Senhas são de sua grandeza.

A canoa virou ...
E com ela a roda vira
A tristeza que acabou.
Tira a nuvem das estrelas
P´ra que todos possam vê-las
P´ra que todos tenham lira.

Meu limão, meu limoeiro ...
Não azedes o meu viver.
Põe teus frutos no terreiro,
Corta o mal beligerante,
Faze chover refrigerante,
Torna doce o meu sofrer.

Eu fui ao Tororó ...
Beber a água da fonte
Da casa da minha avó.
Lá, calças curtas, bem cedo
Aprendi a vencer o medo
De outro lado do horizonte.

Sapo jururu, na beira do rio ...
Fala p´rá água do mundo
Não me deixar passar frio.
Na cidade ou no sertão,
Não causar inundação.
Tornar o solo mais fecundo.

Escravos de Jó jogavam caxangá ...
Joguem fora a violência.
Dos céus, nos joguem maná.
Nas lágrimas joguem sorriso,
Do mundo, façam paraíso,
Devolvam-lhe a inocência.

Ah! Ra, ra, ra. Minha machadinha ...
Corta a inveja e o perigo.
Da sorte me faça madrinha.
Repique toda a maldade
Que impeça a felicidade.
Construa-me eterno abrigo.

Balança caixão, balança você ...
Balança meu corpo e mata a preguiça,
Um leve balanço nos deixa à mercê
Do seu equilíbrio, da sua energia,
Que afronta o sistema, o poder desafia,
Símbolo audaz do ideal de justiça.

O cravo brigou com a rosa ...
Mas eu não briguei com ela.
Fiz, foi carícia gostosa,
Brinquei com a rosa do amor
Minha vida tornou-se flor,
Do jardim da infância, a mais bela.

Boi, boi, boi. Boi da cara preta ...
Não dê assim tanto susto,
Pare de fazer careta !
Leve a criança ao sono
E não ao medo e abandono;
Defende-a a todo custo.

Dorme neném, que a cuca vem pegar ...
Te fazer um doce carinho
Sem nunca te assustar.
Cuca! Eu quero um teu abraço,
Dormir no teu farto regaço,
Qual pássaro dorme no ninho.

Se essa rua, se essa rua fosse minha ...
E eu pensei realmente que era !
Queria brincar de casinha,
De “cow boy” eu me fazia,
E hoje sinto a nostalgia
Daquela infante quimera.

Havia pastorzinho, que andava a pastorar ...
Faze deste mundo inseguro
um imenso rebanho a apascentar.
Um oásis em meio ao deserto;
Onde as pessoas se aconcheguem mais perto,
Sem portas, janelas ou muros.

Eu vi uma barata na careca do vovô ...
Seus cabelos qual neve, bem brancos,
Velho moço, dizia “sinhô” ...
Que a honestidade tudo pode,
Seu aval era o próprio bigode,
Seu olhar, cristalino e franco.

De olhos vermelhos se pelos branquinhos ...
O evento da Páscoa trazia o coelho
E um ovo adoçava os meus sapatinhos.
Grande, pequeno, de qualquer tamanho.
Domingo, o Judas bifado, ao relho.

Se ei fosse um peixinho e soubesse nadar ...
No mar da saudade eu mergulharia.
A canção da ciranda era qual marulhar.
Mãos dadas, girando em roda redonda,
Balanço que lembra o balanço da onda,
E a noite era bela, ainda que fria.

Onde tu vais coco de milho? ...
Vai buscar a felicidade
Para a mão que chora o filho,
Que ao brincar se fez de barro
Debaixo das rodas de um carro,
Morreu deixando saudade.

Criança feliz ! Feliz a cantar ...
Cantava o amor com inocência
E quando ao dormir, me punha a sonhar
Que o canto da roda, que a paz bem encerra,
Acaba de vez com o mundo de guerra,
Matando, no homem, o dom da violência.

*
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Página publicada em novembro de 2024

 

 

 
 
 
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